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Crónicas
Julho 2007

Crónica de Vitor Pinto!

Numa altura em que tanto se fala das novas maravilhas do mundo, dos novos encantos, dos novos monumentos que inspiram à cultura, viro-me nesta altura, para as maravilhas deste país. Para as duas maravilhas culturais que a cidade do Porto têm e já teve.

A primeira maravilha, situava-se em V.N. de Gaia, mesmo ali encostada ao rio Douro. Uma vista indescritível para a cidade Invicta. Toda a zona ribeirinha com a ponte D. Luís em destaque, enquanto se bebia um copo, e principalmente, se ouvia boa musica.
Pois foi com imensa mágoa, com uma tristeza profunda, que tomei conhecimento do encerramento definitivo do Hard-Club. Como foi possível, acabarem com a MELHOR sala de concertos do país?!?

Pois assim foi. Nada havia a fazer. Quando o dinheiro fala mais alto… Algo luxuoso irá ocupar o espaço do Hard-Club infelizmente.
Havia ainda uma esperança de voltar a saborear aquele acolhimento que por vezes, desejava o ter como casa para viver. Mas tudo foi por água abaixo. Aquele espaço magnifico, que tantas alegrias nos deu. Concertos memoráveis ali ficaram por entre aquelas paredes frias.
A visita pela primeira vez a Portugal dos Germânicos Rammstein, as filas intermináveis para vibrar ao som dos nacionais Blasted Mechanism, Zen ou Ornatos Violeta… O Puro encanto de uma noite mística envolta de velas e incensos com a celestial Diva Diamanda Galas…
Entre outros retratos, estes foram apenas alguns dos momentos que vivemos no Hard-Club. Confesso aqui mesmo, que não tenho palavras para dizer o que senti quando subi ao topo do bar, mesmo por cima do palco, naquela espécie de frente de avião da 2ª guerra mundial. Pôr música naquele espaço, foi algo de verdadeira excitação.
Inesquecivelmente maravilhoso. Jamais voltarei a sentir tal emoção pura, pois a pouca esperança que poderia ainda haver, foi deitada por terra, ao ver a imagem mais triste da minha vida! As obras de destruição total do nosso Hard-Club. Nada mais há a fazer!


A imagem mais triste da minha vida. O fim do Hard-Club

Da tristeza incontornável, à maior alegria dos últimos tempos…
O nascimento e o óptimo funcionamento da Casa da Musica. A outra maravilha em formato de cubo extraterrestre, plantada mesmo ao lado da rotunda da Boavista. Um OVNI. Um meteorito caído no centro da cidade.
Desde já o agradecimento ao arquitecto holandês, Rem Koolhaas, pela sua ousadia, pela irreverência, pelo prazer que nos proporciona a cada visita à “sua” casa. Uma obra de veras diferente, mas que se ajusta e se alia a toda a arquitectura circundante.

Rem Koolhaas idealizou um edifício onde os artistas, técnicos e o público, pudessem ficar muito próximos. Prova disso, a extensa visibilidade para as salas de ensaios e para os corredores por onde passam os artistas. Uma ligação muito próxima entre todos aqueles que circulam na casa, circulação essa, totalmente livre. Um desejo do arquitecto.



Um edifício feito unicamente com 3 matérias. Betão branco que com o tempo, vai envelhecendo e ficando amarelado, o alumínio no chão, paredes e tecto, e o vidro com a tal característica ondulada, que nos fascina pelo efeito prático e visual.

Ao circular em torno da sala principal, a sala Suggia, encontramos várias salas, vários pontos de encanto, vários locais de retiro inspirador, que se ligam entre si, que se ligam sempre pelo vidro ondulado, à sala Suggia, o coração da casa.
Encontramos a sala VIP recheada de réplicas de painéis em azulejo de cidades portuguesas e dois exemplos da marca holandesa do arquitecto: “A Refeição” e “A Caça”. Bastante interessante esta sala situada no piso 6. Segue-se o terraço pouco utilizado, devido à fraca acústica, mas mesmo assim, um local bastante procurado para concentrações, estudos ou prazeres de leitura.



A sala 2 com o seu palco amovível, iluminações escondidas nas paredes perfuradas que servem de acústica à sala, e mesmo ao lado, encontramos o bar suspenso com o chão em vidro, acompanhado por um balcão em acrílico translúcido, dando assim, vida ás noites da sala 2.
Segue-se a sala roxa. Uma sala temática especialmente desenhada para servir de “Baby Sitting”. Pavimento feito de pneus reciclados e o tecto, revestido com tecido almofadado. Bastante interessante esta sala roxa, cor da sala feita a pensar na transmissão de calma para as referidas crianças.
Outra cor, agora a sala laranja. Uma sala mais activa, composta por uma rampa em alcatifa, servindo assim, de anfiteatro para os workshops que aqui se realizam.
A sala renascença pode servir de café alternativo, ilustrado por um padrão de azulejos tipicamente portugueses, criando uma ilusão de óptica que vai aumentando e diminuindo a dimensão do padrão, embora todos os azulejos sejam exactamente do mesmo tamanho.
Há ainda a sala Cyber, revestida com triângulos de esponja no tecto e paredes, e um conjunto de corredores labirínticos, que vão servindo para apresentar várias exposições musicais, vários workshops, ou até mesmo a servirem de sala de espectáculo alternativas de teor reduzido, tal como o parque de estacionamento pode acolher festivais, como já aconteceu.



Com os vidros ondulados no topos da sala, vidros que se equilibram entre si e que criam uma acústica excelente, topos esses que servem de iluminação diurna para a sala Suggia. Uma homenagem à primeira violoncelista portuguesa.
Uma sala bastante bem pensada em forma de “Shoes box” (caixa de sapatos), sala esta que se encontra actualmente qualificada como uma das 10 melhores salas acústicas do mundo. O seu único senão. É a incapacidade de receber óperas clássicas. Mas isso foi mesmo propositado por Rem Koolhaas, pois para tal acontecer, a sala iria perder cerca de 30% da sua acústica, pois necessitaria de um fosso de orquestra e de uma torre de cena. Assim sendo, a Casa da Musica ficou a ganhar na qualidade sonora.



Nesta sala, aparecem dois camarotes VIP, que são somente os piores lugares desta sala. De novo, os ideais do holandês a fazer estragos, tudo para haver igualdade e para que todas as classes se misturem. Apoiado!
Toda a decoração nas paredes é feita com texturas ampliadas de veios de madeira, aqui revestidos com folhas de ouro. Nestas paredes são visíveis duas réplicas de órgãos de tubos, que um dia serão órgão verdadeiros, substituindo as caixas vazias presentes. Toda a acústica foi já pensada anteriormente para o efeito de suportar órgãos verdadeiros.
De salientar ainda a bolha transparente pendurada que serve de concha acústica, melhorando assim a percepção sonora para os artistas em palco. Notável.
Uma belíssima sala que alberga 1238 pessoas num cenário fabuloso feito de bancos corridos, com de sofás se tratasse.



É com todo este bem-estar, que cresce a vontade de visitar, passear, abusar desta casa, que passou a ser a nossa casa, para nosso grande prazer.
Infelizmente, ficou impar esta maravilha do mundo do espectáculo na cidade do Porto.

Vitor Pinto





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