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Crónicas
Abril 2009
PARIS, LONDRES
1er Jour.
Deixa-se a mochila no hotel, já que nestas coisas-de-viajar-barato só convém trazer bagagem de mão, prêt-à-porter, e parte-se vers l'aventure! O truque para conhecer a cidade em poucas horas (não só Paris, mas qualquer uma) é abdicar do metro e optar pelo autocarro. As janelas mostram o mundo ao nosso nível. Em Paris, em cada cruzamento, ao fundo de cada rua, um jardim, uma catedral, um edifício a admirar. Impossível ver tudo em dois dias. As rodas ajudam. A dada altura, sai-se numa paragem central. Passa-se ao lado do Louvre e de uns quantos monumentos-sem-nome (para nós, que andamos sem guia). Nas ruas, crêperies, floristas, frutarias e bicicletas, muitas bicicletas. É este o espírito.
Na Ilha de França. Subimos o Sena, a pé. Saint Jacques, Sainte Chapelle, Notre-Dame. Iluminada por baixo, a catedral parece fantasma. A última visita acabara, já não se pode entrar. Não faz mal. Vemos daqui as gárgulas que nos olham lá de cima, desfocadas. Deixamo-las para os turistas japoneses e atravessamos para o outro lado, para a boémia do Quartier Latin e do Boulevard Saint-Germain. Por entre vielas secretas, cheias de ateliers, chega-se às famosas esplanadas onde ninguém se senta de costas para a rua. Por aí, também, lojas e lojas de comics[1] para deliciar os amantes de BD (e frustrá-los com os preços…). Passa-se junto a La Sorbonne e sonha-se em poder, um dia, estudar lá. Janta-se couscouz no Chez Jaafar[2] , um restaurante genuinamente tunisino. Na rua ao lado, à entrada do metro, luzes néon ao ritmo de performers de hip-hop. Sob as mesmas luzes, a umas paragens de distância, a Torre Eiffel (claro!) e o Moulin Rouge. De Porno Shop a Librairie Érotique, ainda a mesma Paris.
2ème Jour.
De música, pintura, política, teatro e literatura, segue-se para o cinema.
À noite, imperdível, o clube La Flèche d’Ór[5]. Todas as noites, vários concertos de novas bandas de todas as origens. Os concertos começam muito cedo. Perde-se a primeira banda. O jantar ali é sempre demorado. Perde-se a segunda banda. Mas não os nova-iorquinos Ra Ra Riot[6]! Na linha dos Vampire Weekend e dos Arcade Fire, mas ainda a arranhar cordas novas. Surpreendem pela beleza das canções. Não se limitam a ser mais uma nova banda indie de miúdos universitários. Ganham força na violoncelista e cor na violinista, deux mademoiselles com vestidos à-la-Au-Revoir-Simone. A sala é pequena e está completamente cheia. Os franceses, pelos vistos, não são de se mexer muito. Como se fossem da casa, ficam, cada um, na sua individualidade. Mas o concerto não perde ânimo. Ouvem-se todas as músicas conhecidas e alguns avanços en première. Os Ra Ra Riot aos saltos e o público estático. Mas todos parecem ter gostado. Nós também.
É tempo, agora, de voltar ao hotel e arrumar a mochila. Sobram 4 horas de descanso até à partida para o outro lado do Canal da Mancha.
3rd Day.
Ao fim-da-tarde, vai-se ao Soho. Exactamente como nos filmes e séries de TV: os ingleses saem dos empregos e vão directos para os bares. É Quinta-feira e anda toda a gente na rua de copos na mão. Vamos até Picadilly Circus, que, embora menor do que se idealiza, mantém o espírito imaginado. Toda a gente sentada na famosa escadaria. Como companhia, leva-se um balde de café da Starbucks – há montes em Londres, mas não se recomendam, de todo! Ridiculamente caro e muito mau – preferir, em vez, o café dos Costa. Vai-se à HMV(His Master Voice)[7] e ficamos de imediato com a certeza de que mais alguém nos está a enganar em Portugal. CDs, DVDs e livros a preços mais-que-acessíveis. Traz-se o novo CD especial duplo dos Joy Division e o primeiro dos Franz Ferdinand por 10£ (os dois – três, no caso!). E alguns dos filmes favoritos a 2£ ou 3£. Para não falar das livrarias Waterstone’s[8] – a perdição de qualquer leitor!
4th Day.
Quer-se continuar – aquilo prolonga-se endlessly – mas os Beatles cantam-nos aos ouvidos! Apanha-se o 139 para Abbey Road e atravessa-se a famosa passadeira, mesmo em frente aos estúdios, sobre o fantasma de "Her Majesty".
Volta-se ao centro, passa-se por Trafalgar Square – onde está a National Art Gallery e se concentra todo o orgulho britânico – para ir para a Charing Cross Road. Pára-se num pub típico[12] e come-se o tradicional ‘fish and chips’. Mais à frente, Denmark Street, para fazer um favor a um amigo. Para quem está ligado à música, é visita obrigatória. Lá e nas redondezas estão situadas todas as lojas especializadas em instrumentos musicais.
No coração de Londres, o Big Ben, o Parlamento, Westminster Abbey. Passa-se por tudo a correr, mas onde se corre – literalmente – é pela Tate Britain[13], que já está a fechar, 18h30.
Ainda restam algumas energias para uma travessia, já nocturna, da Tower Bridge a pé – vê-se, a partir daí, toda a City, a Londres moderna, com os seus edifícios espelhados a tentar alcançar o céu. Os escritórios das grandes empresas, os bancos centrais, todo o sistema financeiro se encontra ali.
Descansa-se um pouco no hotel e volta-se ao Soho, já depois da meia-noite. Na noite anterior tivéramos sorte com o restaurante – um chinês, na Wardour Street, onde se come o que, e quanto, se quiser, por apenas 4.95£! –, mas desta vez temos azar, pois ali tudo fecha à 1h00! O melhor, a essa hora, é mesmo ir a um McDonald’s ou a um KFC, abertos toda a noite. Um pouco perdidos e sem saber se ouvir a mente ou o corpo, ainda há disposição para entrar num bar de hard rock numa transversal de Charing Cross Road. Muitas das figuras avistadas de manhã em Camden Town estão lá! A música é demasiado pesada, mas o ambiente é muito curioso. Motards, punks, holligans, gays. Tudo o que aceita escutar Motorhead a seguir a Dead Kennedys e antes de Def Leppard. O verdadeiro ‘underground’ de Londres!
5th Day.
E, logo depois, o tão desejado, Portobello Market[15]! Outro mercado que podia ser importado. Uma espécie de Feira da Ladra, mas muito mais interessante, com mais coisas, mais variedade. Tudo o que se imagina poder encontrar em Londres está lá. Numa rua com duas milhas. Antiguidades, quinquilharias, artigos vintage, uniformes militares, soldadinhos de chumbo, arte zulu, brinquedos de folha de flandres, tudo, tudo! De todo o mundo! Não se vê nem um terço do mercado. Sabíamos da existência de um "ghetto" português no fim da rua, mas não deu para chegar lá! Tínhamos um avião à nossa espera. Agora, Londres-Porto. A partir de Stansted.
E o desejo de voltar. Para subir a Notre-Dame e a Torre Eiffel. Andar no carrousel d’Amélie. Ir às catacumbas parisienses. Voltar à HMV com uma mala vazia, para encher. Uma outra para Camden Market. Passar o dia nas Tates. Ver o render da guarda no Buckingham Palace. Percorrer até ao fim a Portobello Road, num Sábado. Ir a todo o lado a que não se foi.
texto: joana soares, com J.C. Soares
[1] http://www.album.fr/librairies/librairie-album-comics/librairie-album-comics.htm [2] http://www.fra.cityvox.fr/restaurants_paris/chez-jaafar_40238/Profil-Lieu [3] http://www.pere-lachaise.com [4] http://www.movie-locations.com/movies/a/amelie.html [6]
http://www.myspace.com/rarariot [7]
http://hmv.com [8]
http://www.waterstones.com [9]
http://en.wikipedia.org/wiki/Chinatown,_London [10]
http://en.wikipedia.org/wiki/Austin_FX4 [11] http://www.amazon.com/High-Fidelity-Nick-Hornby/dp/1573225517 [12]
http://www.londonaletrail.co.uk [13]
http://www.tate.org.uk/britain
5 dias, 4 noites
Porta de embarque 14. Aeroporto Francisco Sá Carneiro. Porto-Paris. Parte-se ao acaso – sem planos. Vai-se, apenas – sem propósito. Ir a Paris almoçar já não é só para os que podiam – agora todos podem. A "culpa" é dos vôos low-cost!
Chega-se a Beauvais e num qualquer boteco paga-se logo 2,00€ por um café e 3,50€ por uma cerveja, antes de se fazer a viagem de uma hora num autocarro manhoso até à cidade-luz. Logo na viagem inaugural du métro, a primeira experiência: uma mulher recita a viva voz, perante a estupefacção de uns e a indiferença de outros, um longo poema de revolta da classe trabalhadora: “Les Misérables”. A sua beleza, construída pela idade – a mesma que lhe construiu também a loucura –, juntamente com o deslumbramento da expressiva língua francesa, comove-me (mesmo não entendendo muito do que diz…).
Apanha-se o Sena ao entardecer, com um fruto doce vietnamita na mão. Uma mulher jovem atravessa a Pont Neuf a dançar. A cidade como que acende as luzes ao seu passar.
Depois de uma noite com luzes frenéticas, uma manhã dedicada às sombras calmas do Père-Lachaise[3]. O silêncio impera. Som, só o dos corvos e o dos passos dos gatos. De division para division, campas brilhantes, resplandecentes, outras, escuras austeras, e campas de hera e de flores. Jim Morrison (escondido). Maria Callas (exumada). Modigliani (esquecido). Victor Noir (erotizado). Molière e La Fontaine (emparcelados). Oscar Wilde (coberto de batôn).
Um percurso curioso, o da busca dos locais d'«O Fabuloso Destino d’Amélie»[4]. Começa-se por tomar um café em Les Deux Moulins. Sobe-se a Sacré Coeur e desce-se até ao carrousel. Sobe-se de novo, até ao mercado Au Marche de la Butte. Pára-se na estação de metro Lamarck-Caulaincourt, onde Amélie conduziu o velho cego. Locais de peregrinação obrigatória para os fãs do filme. Uma das impressões de vida do Paris romantizado.
Prevenidos, compráramos já o passe que nos permitiria viajar até ao aeroporto Charles De Gaulle sem despesas extra. As pessoas do train madrugador parecem zombies. Não se vislumbra aqui nenhum do brilho nem du charme que transbordava na noite anterior. Vão todas a caminho do emprego, nos subúrbios de Paris.
Paris-Londres. Mais uma vez, como em todos os vôos com preços friendly, aterra-se num aeroporto a uma hora do centro da cidade. Lutton, no caso.
Depois do check in no hotel, indiano, situado em King’s Cross, segue-se por Oxford Street – a Rua do Ouro ou a de Cedofeita local, só que muito maior. Tudo é táxis pretos e autocarros vermelhos (optar sempre por um de dois pisos e ocupar os lugares da frente, com vista privilegiada sobre a cidade). Segue-se até Notting Hill. The White City. Portobello Road. As lojas retro e vintage são uma maravilha. E hoje não é dia de mercado – teremos de esperar até Saturday morning.
Com a noite já ganha, vai-se desanuviar para a London's Chinatown[9]. Toma-se um café no Costa e segue-se para o hotel num genuíno táxi londrino – um Austin FX4[10].
Acorda-se e as pernas já quase não se mexem, do cansaço. E ainda tinham 2 dias e uma noite pela frente! Mas há que ir ao Camden Market, em Camden Town, o bairro punk. Alguém devia franchisar este mercado e levá-lo para Portugal! Botas, casacos, t-shirts, vestidos, acessórios, tudo fashionable and trendy – com uma queda especial para o punk e gótico, mas abarcando muitos estilos. Ainda para mais, barato! A perdição da juventude. Doc Martens de todas as cores e feitios a preços muito mais baixos que as de cá. Não vale! Passa-se junto à antiga loja de discos usados que inspirou Nick Hornby para o seu livro “High Fidelity”[11]. Desactivada, já.
Sobe-se o Tamisa pela outra margem até à Tate Modern[14], onde se encontra a gente mais bonita da cidade. As pernas não param de reclamar, mas não se pode deixar de dar uma volta geral para conhecer o espaço. É um novo mundo, lá dentro. Seria necessário um dia inteiro para uma visita merecida!
Último dia. Em King’s Cross, tiram-se fotografias à célebre Plataforma 93/4, para mostrar aos irmãos mais novos, fãs de “Harry Potter”.
As viagens viciam. Quer-se mais, sempre mais.
fotos: joana soares e J.C. Soares
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