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Março 2015


As novas tecnologias e a Televisão?

Nos últimos cinco anos, as novas tecnologias e a proliferação das redes sociais, dos smartphones e dos tablet, vieram alterar o comportamento dos telespectadores, e por consequência, a forma como produtores e canais de TV constroem e divulgam as suas ofertas de entretenimento. Os já populares serviços de video on demand ou de time shift, que permitem ao espectador assistir aos conteúdos ao seu próprio ritmo, estão a ser complementados por uma oferta de ferramentas que tornam a experiência televisiva mais interativa e imersiva.

Um dos exemplos da tecnologia ao serviço da TV é o chamado dual screen em que programas de TV são complementados por conteúdos disponíveis para telemóveis ou tablet e que correm de forma síncrona com a emissão televisiva. Recentemente, a TVI e a Endemol anunciaram que a semifinal e final do programa A Tua Cara Não me é Estranha irá ter uma aplicação interativa que vai permitir, por exemplo, bater palmas a partir de casa. A aplicação irá permitir ao espectador participar em direto, e de forma síncrona, em várias dinâmicas que vão sendo lançadas durante o programa na aplicação e que vão atribuindo pontos, a cada telespectador que esteja a jogar.

O espectador passa a ter um papel ativo na visualização do programa. Nos E.U.A. e no Reino Unido, muitos programas usam este modelo de duplo ecrã para fidelizar os espectadores, especialmente, durante os intervalos publicitários. O objectivo é captar a atenção do espectador ao longo de toda a emissão, lançando tarefas ou desafios. Outra das formas de prender a atenção do espectador é sugerir, durante a emissão televisiva, questões ou tópicos, que podem gerar discussões nas redes sociais, nomeadamente no Facebook e no Twitter, redes em que os espectadores se ligam durante a emissão televisiva.

Mas esta lógica de adicionar uma camada de interatividade à emissão de TV não é recente. Desde os míticos Você Decide e Agora Escolha, até aos números de valor acrescentado que permitem expulsar ou premiar concorrentes de reality shows, ao longo das últimas décadas, várias mecânicas foram já experimentadas para atrair e manter a atenção do telespectador. A grande diferença é que as plataformas de interatividade são cada vez mais complexas (proporcionam experiências muito mais ricas visualmente), oferecem os resultados da interação em tempo real e permitem estimular uma conversa com outros espectadores.

Apesar destas tecnologias serem normalmente adicionadas após o programa de TV estar formatado e criado, os novos media oferecem ainda vantagens para produtores e criadores que pretendem cativar a atenção do espectador muito antes do programa ser produzido ou exibido. Existem muitos exemplos de séries e programas que foram inicialmente exibidos na Internet e só depois em TV (a SIC foi pioneira em Portugal nesta abordagem) ou conteúdos que foram criados inicialmente para a Internet e depois do sucesso na rede é que foram transformados em programas de TV. Por isso a TV não é só a caixa lá de casa mas uma oferta de conteúdos audiovisuais que podem ser acedidos em qualquer dispositivo com ecrã.

Nuno Bernardo
Fundador e Diretor Geral da beActive. Pai, Autor e produtor de Cinema e TV nomeado três prémios Emmy e vencedor de dois prémios Kidscreen.

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