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Fevereiro 2015


O que mudou na forma como vemos Televisão

No inicio de 2003, a beActive estava a ultimar os preparativos do lançamento da primeira série interativa pensada exclusivamente para ser distribuída em múltiplas plataformas, o Diário de Sofia. Recorde-se que estamos a falar de um ano em que a banda larga dava os primeiros passos na Europa, os telemóveis não eram smart, o oferta de TV por cabo era limitada a algumas dezenas de canais, as redes sociais eram um conceito de ficção científica e Mark Zuckerberg era um adolescente borbulhento ainda no liceu. No entanto, cedo percebemos que as preferências dos espectadores e consumidores estavam a mudar tal como a forma de aceder a conteúdos de informação e entretenimento.

O Diário de Sofia, lançado em 2003 pela beActive em parceria com a Optimus, o Clix e a Revista Ragazza, contava o dia-a-dia ficcionado de uma adolescente através de blogs, fotos, vídeos, mensagens SMS e fotonovela impressa mensalmente na revista do grupo Hachette. A receptividade da história, e em especial da sua inovadora forma de distribuição, cativou desde cedo o seu público alvo. Em pouco meses, o Diário de Sofia transformou-se num programa de sucesso na RTP, numa coleção de livros (meio milhão de exemplares vendidos) e programas de rádio na Antena 3 e CidadeFM. Alguns anos mais tarde, o conceito viria a ser comprado pela Sony Pictures Television e adaptado em 10 países (sendo o primeiro formato televisivo criado em Portugal a ser exportado).

Doze anos depois, os hábitos dos consumidores mudaram radicalmente, não só dos adolescentes, mas de uma grande parte da população. As redes sociais, os serviços de gravação digital, o Replay TV (acesso aos programas emitidos nos últimos 7 dias), o vídeo a pedido, não só na aparelho de Televisão, mas nos telemóveis, tablets e computadores são cada vez mais populares. Vivemos uma nova era da experiência televisiva. Cada vez esta atividade é menos linear, mas mais a pedido e multiplataforma. Programas de TV, filmes, informação são consumidos em dezenas de plataformas e dispositivos, normalmente, de uma forma assíncrona. Cada espectador cria a sua própria experiência de televisão personalizada.

O espectador pode seguir as suas séries favoritas, aceder a conteúdos extra, ser alertado quando novos episódios estão disponíveis e ter uma experiência realmente multiplataforma: pode começar a ver um episódio no seu smartphone (por exemplo na viagem do metro), fazer uma pausa e terminar a visualização do episódio na sua Televisão.

A experiência televisiva será cada vez mais configurável, interativa e social (mesmo que estejamos em casa sozinhos a ver TV). Tudo efectuado a uma escala nacional ou global e com retorno em tempo real das nossas interações. Para os canais e em especial para os anunciantes, novos desafios estão a surgir todos os dias. Se o espectador tem uma catividade errática, se os padrões de consumo de entretenimento são cada vez mais raros e se a atenção do espetador é repartida por duas ou três plataformas em simultâneo, novos formatos publicitários terão de surgir para responder a esta mudança de comportamento.

Nuno Bernardo
Fundador e Diretor Geral da beActive. Pai, Autor e produtor de Cinema e TV nomeado três prémios Emmy e vencedor de dois prémios Kidscreen.

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