No inicio de 2003, a beActive estava a ultimar os preparativos do lançamento da primeira
série interativa pensada exclusivamente para ser distribuída em múltiplas plataformas, o
Diário de Sofia. Recorde-se que estamos a falar de um ano em que a banda larga dava
os primeiros passos na Europa, os telemóveis não eram smart, o oferta de TV por cabo
era limitada a algumas dezenas de canais, as redes sociais eram um conceito de ficção
científica e Mark Zuckerberg era um adolescente borbulhento ainda no liceu. No entanto,
cedo percebemos que as preferências dos espectadores e consumidores estavam a
mudar tal como a forma de aceder a conteúdos de informação e entretenimento.
O Diário de Sofia, lançado em 2003 pela beActive em parceria com a Optimus, o Clix
e a Revista Ragazza, contava o dia-a-dia ficcionado de uma adolescente através de
blogs, fotos, vídeos, mensagens SMS e fotonovela impressa mensalmente na revista do
grupo Hachette. A receptividade da história, e em especial da sua inovadora forma de
distribuição, cativou desde cedo o seu público alvo. Em pouco meses, o Diário de Sofia
transformou-se num programa de sucesso na RTP, numa coleção de livros (meio milhão
de exemplares vendidos) e programas de rádio na Antena 3 e CidadeFM. Alguns anos
mais tarde, o conceito viria a ser comprado pela Sony Pictures Television e adaptado em
10 países (sendo o primeiro formato televisivo criado em Portugal a ser exportado).
Doze anos depois, os hábitos dos consumidores mudaram radicalmente, não só dos
adolescentes, mas de uma grande parte da população. As redes sociais, os serviços
de gravação digital, o Replay TV (acesso aos programas emitidos nos últimos 7 dias),
o vídeo a pedido, não só na aparelho de Televisão, mas nos telemóveis, tablets e
computadores são cada vez mais populares. Vivemos uma nova era da experiência
televisiva. Cada vez esta atividade é menos linear, mas mais a pedido e multiplataforma.
Programas de TV, filmes, informação são consumidos em dezenas de plataformas e
dispositivos, normalmente, de uma forma assíncrona. Cada espectador cria a sua própria
experiência de televisão personalizada.
O espectador pode seguir as suas séries favoritas, aceder a conteúdos extra, ser
alertado quando novos episódios estão disponíveis e ter uma experiência realmente
multiplataforma: pode começar a ver um episódio no seu smartphone (por exemplo
na viagem do metro), fazer uma pausa e terminar a visualização do episódio na sua
Televisão.
A experiência televisiva será cada vez mais configurável, interativa e social (mesmo
que estejamos em casa sozinhos a ver TV). Tudo efectuado a uma escala nacional ou
global e com retorno em tempo real das nossas interações. Para os canais e em especial
para os anunciantes, novos desafios estão a surgir todos os dias. Se o espectador tem
uma catividade errática, se os padrões de consumo de entretenimento são cada vez
mais raros e se a atenção do espetador é repartida por duas ou três plataformas em
simultâneo, novos formatos publicitários terão de surgir para responder a esta mudança
de comportamento.
Nuno Bernardo
Fundador e Diretor Geral da beActive. Pai, Autor e produtor de Cinema e TV nomeado
três prémios Emmy e vencedor de dois prémios Kidscreen.