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Crónicas

Novembro 2009


Estocolmo, Berlim

Estocolmo-
j. e j. partem para Estocolmo.Voam do Porto numa manhã de Setembro, percorrem a pé Girona e a sua cor de barro,

dormem no chão frio do aeroporto de Stansted e, no dia seguinte, finalmente, chegam à cidade sueca. Nenhuma das duas fala uma palavra de sueco, mas a maravilha é que todos compreendem o inglês. Num primeiro passeio de reconhecimento, só edifícios em escala gigante. j. e j. não sabem onde guardar tanto portento. Os habitantes daquela cidade nórdica parecem encaixar-se no conjunto: tão bem vestidos quanto os edifícios erigidos. Os sinais de trânsito são vermelhos e amarelos, mas o que espanta j. e j. são as bicicletas na rua sem correntes, nem cadeados, e o chão sem matéria indesejável às solas das suas All-stars rotas. Em dois dias e meio, criam logo a rotina da cevada pela manhã, na confeitaria junto ao hostel.
j. e j. sentem-se pequenas num mundo tão grande, mas grandiosas por lá estarem.

Depois das expectativas quebradas no Nationalmuseum, seguem para o Vasamuseet. Embora as bocas se abram de espanto para o navio do século XVII, j. e j. choram a rir ao lerem que o ‘dito cujo’ afundou no dia da inauguração. E riem ainda mais quando se apercebem que todo o museu é feito de “se”s – “Se o Vasa não tivesse afundado...” Parece que a neutralidade política retira todo o interesse aos museus de História.

Para outro ponto de vista, j. e j. pensam ir a “Versailles do norte” – o Palácio de Drottningholm – mas a viagem de barco é só para os bolsos do nível de vida de Estocolmo ou dos turistas endinheirados.
Em vez disso, comem um Tunnbrödrulle, enquanto passeiam por Gamla Stan (cidade velha), a rirem-se em português. Aqui, a grandiosidade diminui em escala, mas o portento parece-lhes o mesmo. Mais velho, mais aconchegante.
No dia seguinte, passeiam-se pelas mesmas ruelas à luz do sol, assistem ao render da guarda em frente ao Palácio Real e apaixonam-se pelo guarda mais novo.

Em Estocolmo, mais interessantes que os museus, são as lojas dos russos exilados. j. e j. não resistem e adquirem duas notas de 1000 rublos de 1917. depois, sem mais orçamento, babam-se em frente às montras de chocolaterias e pastelarias, demasiado bem decoradas.

-Berlim
Quatro dias em Berlim chegam para gastar as solas de j. e j.. Quem lhes disse que as All-stars aguentavam a lista de j.?
A lista de j.:

DIA1
- mercado em Prenzlauer Berg (espécie de Feira da Ladra – finalmente vi t-shirts para raparigas dos Velvet Underground, dos Joy Division e dos Sonic Youth; comprei uma teleobjectiva, o que me valeu a viagem!)
- Alexanderplatz (no Park Inn, pessoas atiram-se lá de cima; nota: nunca mais comprar fruta aí – demasiado cara!)

- Pergamonmuseum (altar de Pérgamo – não é preciso dizer mais nada!; e estamos mortas de cansaço; andamos e andamos e vê-se sempre a Fernsehturn – torre da televisão)
- Brandenburger Tor (portas de Brandenburgo – tudo sujo, porque houve uma maratona)
- Memorial do Holocausto (um labirinto de pedras que lembram túmulos; assustador, à noite, como se todas as vítimas nos esmagassem – junto ao Tiergarten)

- Palácio do Reichstag (à noite, subir à cúpula do Norman Foster, ver Berlim à luz dos candeeiros e das janelas das casas, Berlim aos nossos pés, Berlim a preto e branco, Berlim!)

- Potsdamer Platz (imagino o velho Homero de Wim Wenders em “Asas do Desejo” à procura da Potsdamer Platz, em 1987, um espaço desvastado – agora, está cheia de prédios enormes, quase mais altos que o céu, mas, mesmo assim, não a encontro)

DIA2
- Berlim Leste (ainda se sente o espírito da RDA – as pessoas são diferentes, as ruas são diferentes, os cheiros e as cores são diferentes; mantém-se a destruição e parte da estética decadente – ou decadência estética! – dos anos 80/90)

- «In Berlin, by the wall» (como o Lou Reed)

- Jüdisches Museum (Museu Judeu, com intervenção de Daniel Libeskind – a torre do holocausto: um espaço vazio, sem saída, gelado – como se todas as vítimas nos sufocassem)

- Checkpoint Charlie (entre uma e outra Alemanha)

- Topographie des Terrors (antiga central das SS – em reconstrução; as nossas pernas já não aguentam)
- Kreuzberg (jantar kebab; figuras estranhas na rua, mas ninguém tem medo, todos falam com todos, e connosco também!)
- Sakeno Sakana Orchestra (banda japonesa no nosso hostel – deram-nos o EP deles! – www.myspace.com/sakenosakana)

DIA3
- Palácio de Charlottenburg (Berlim ocidental; café e croissant de chocolate na mão – passeámos pelos jardins enormes, com rio incluído – sentimo-nos no “Marie Antoinette”, da Sofia Coppola)

- Olympiastadion (um colosso de Hitler; depois comemos Strudel em homenagem ao Col. Hans Landa, do “Inglourious Basterds” do Tarantino)

- Hauptbahnhof (Estação Central — onde há construções assim no nosso país?)

- Hamburger Bahnhof (desilusão – vale pelo Mao do Warhol)
- jantar Schnitzel em Spandauer Straße
- Astro Bar, em Friedrichshain (bar dos power rangers, com dj igual aos baixista dos Joy Division/New Order; eu roubei a fechadura do wc e j. roubou a lista de bebidas, de recordação)

DIA4
- último “zwei kaffee und zwei croissant, bitte”
- Filmhaus (o mundo do Cinema - sonho! Caligari, Mabuse, Lang, Wiene, Murnau, Pabst, Lubitsch, Riefenstahl, Dietrich, etc, etc – vénias aos mestres!)
- Bauhaus-Archiv Museum of Design (já não temos olhos para ver nada)

- Siegessäule (Coluna da Vitória – de novo, “Asas do Desejo” – não subimos por causa do horário, mas voltamos a Berlim só para ver a Vitória de bronze bem de perto)

- comer Pfannkuchen (que inspiraram as nossas Bolas de Berlim) e Bratwurst mit Brot

FIM da lista de j.

j. não escreveu tudo. Mas que mais há a dizer? j. e j. agarram-se às memórias e não às palavras, passam mais uma noite num aeroporto de Londres e, numa madrugada de Setembro, chegam ao Porto. j. vai comer pão com manteiga e beber água sem gás (que é raro encontrar, tanto em Estocolmo como em Berlim) e j. vai comer uma francesinha ao Capa Negra.

texto e fotografias: j.
máquina: praktica mtl 5b

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