
Os pés passearam diante das grandes fotografias do Sebastião Salgado***, numa
exposição de mundos pendurados na parede. O Sebastião Salgado faz isso bem.
Agarra-os, prende-os sem forçar e trá-los para perto dos nossos olhos.
Para que o mundo se aproxime, se condense em duas salas. Para que se viaje
para o longe sem se sair de perto.
Nos mundos que o Sebastião mostra, tudo parece mais longe do que o longe.
Tudo parece estratosfericamente longe. Como realidades que não podem existir.
Como coisas inventadas numa fantasia de cores de pele e utensílios inusuais ao
olho que vê todos os dias tanto do mesmo.
Naquela exposição, como noutras que proporcionem o mesmo divagar pela
diferença extrema, a mente habitua-se devagar ao que nunca viu. E de repente o
“possível” aumenta.
Ver assim - fotografias, filmes, pessoas, histórias, retratos, narrações - abre o
mundo a mais, abre o possível do mundo.
Abre realidades que nunca sentiremos na pele, por ser tão curto em tempo o
tempo que temos cá.
Abre realidades no sentir, por ser finita a capacidade de nos pormos em situação.
Abre-nos ao mundo, a esse que nunca entrará todo por nós adentro, mas que
quanto mais se abre mais nos abre.
Que cresça em nós o possível. Que cresça em cada dia que por nós passa o
sentido da diferença, a amplitude de visão que se estende e se entende.
Quanto mais mundo entra, maiores se tornam os universos mentais que
rodopiam num sótão onde cabe tanto. E quanto mais decorados, povoados,
cheios e amontoados estejam estes sótão-de-guardar-mundo, maior a capacidade
de o abraçar com dois braços e um sentir que respeita diferenças, entende
diferenças, integra diferenças.
O Sebastião Salgado traz-nos mundos de longe através de pedaços que se
penduram em paredes ou se folheiam em livros. Que não se vão esses mundos, e
tantos outros diferentes e impossíveis, quando a exposição fica para trás e o livro
se devolve à prateleira.
O mundo precisa que continuemos a querer sabê-lo. E a trazê-lo para nós.
O projecto Génesis, o mais recente grande trabalho fotográfico de Sebastião Salgado,
fotógrafo brasileiro, inclui 245 imagens de grande formato captadas entre 2004 e 2011 nos
lugares mais recônditos e desconhecidos da Terra. Patente na Cordoaria Nacional, em
Lisboa, até dia 2 de Agosto’15.
Fotos: Sebastião Salgado
Edite Amorim, 8 Maio'15
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