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Crónicas

Maio 2015


Pedaços de Pensar Grande
“Trazer mundos desde longe”

Os pés passearam diante das grandes fotografias do Sebastião Salgado***, numa exposição de mundos pendurados na parede. O Sebastião Salgado faz isso bem. Agarra-os, prende-os sem forçar e trá-los para perto dos nossos olhos.
Para que o mundo se aproxime, se condense em duas salas. Para que se viaje para o longe sem se sair de perto.
Nos mundos que o Sebastião mostra, tudo parece mais longe do que o longe.
Tudo parece estratosfericamente longe. Como realidades que não podem existir. Como coisas inventadas numa fantasia de cores de pele e utensílios inusuais ao olho que vê todos os dias tanto do mesmo.

Naquela exposição, como noutras que proporcionem o mesmo divagar pela diferença extrema, a mente habitua-se devagar ao que nunca viu. E de repente o “possível” aumenta.

Ver assim - fotografias, filmes, pessoas, histórias, retratos, narrações - abre o mundo a mais, abre o possível do mundo.
Abre realidades que nunca sentiremos na pele, por ser tão curto em tempo o tempo que temos cá.
Abre realidades no sentir, por ser finita a capacidade de nos pormos em situação. Abre-nos ao mundo, a esse que nunca entrará todo por nós adentro, mas que quanto mais se abre mais nos abre.

Que cresça em nós o possível. Que cresça em cada dia que por nós passa o sentido da diferença, a amplitude de visão que se estende e se entende.
Quanto mais mundo entra, maiores se tornam os universos mentais que rodopiam num sótão onde cabe tanto. E quanto mais decorados, povoados, cheios e amontoados estejam estes sótão-de-guardar-mundo, maior a capacidade de o abraçar com dois braços e um sentir que respeita diferenças, entende diferenças, integra diferenças.

O Sebastião Salgado traz-nos mundos de longe através de pedaços que se penduram em paredes ou se folheiam em livros. Que não se vão esses mundos, e tantos outros diferentes e impossíveis, quando a exposição fica para trás e o livro se devolve à prateleira.
O mundo precisa que continuemos a querer sabê-lo. E a trazê-lo para nós.


O projecto Génesis, o mais recente grande trabalho fotográfico de Sebastião Salgado, fotógrafo brasileiro, inclui 245 imagens de grande formato captadas entre 2004 e 2011 nos lugares mais recônditos e desconhecidos da Terra. Patente na Cordoaria Nacional, em Lisboa, até dia 2 de Agosto’15.


Fotos: Sebastião Salgado

Edite Amorim, 8 Maio'15
www.thinking-big.com/blog

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