
Fechei a tampa do computador. Clap.
Fechei-a.
O Facebook contava-me de amigos em viagens, de conhecidos em refeições, de
colegas em projetos.
O Twitter falava-me de ideias de empresas, de citações de autores, de notícias de
jornais, de imagens de arte.
O LinkedIn falava-me de atualizações de aptidões de outros, de projetos de
outros, de trabalhos de outros.
E eu fechei o computador porque na realidade estava cansada dos outros longe e
me apeteciam outros perto.
E fechei o computador e fiquei a olhar à volta. À volta, no café onde estou
sentada, na Casa da Música.
Está cheio. É Domingo à tarde e isto podia ser uma representação em curto
espetro de boa parte do Mundo.
Há gente que fala línguas diferentes, com estilos diferentes e notoriamente de
mundos diferentes.
Uns usam o computador, outros livros, outros o olhar, a voz, o toque.
Ouvem música, ouvem nada, ouvem-se uns aos outros.
Não sei nada do que estão a fazer. Quem são, em que trabalham, quais as
opiniões deles, o que comeram.
Não faço ideia dos gostos deles, das relações deles, de quem são os amigos deles.
Não sei que livros leram, que filmes viram nem o que vão fazer hoje à noite.
São pessoas. Pessoas como eu.
E nesta diferença do tudo que as envolve, somos todos tão mais parecidos do que
diferentes...
Eu não canto ópera como os da mesa diferente, mas gosto de a ouvir. Eu não
percebo de Design como os da mesa do lado, mas gosto de o ver. Eu não namoro
com o casal de trás, mas gosto de os sentir.
É como se algo invisível nos unisse a todos, de algum modo, no que nos define
como Humanos.
Fico a imaginar as parecenças invisíveis. Sei que alguém nesta sala também
descasca as cebolas como eu. Sei que alguém que está neste espaço também
adora vermelho como eu. Sei que alguém aqui também espirra com alguns gatos,
gosta de canetas de cores, se emociona com certos quadros, já chorou com certa
música, se ri de certas piadas, chapinha numa poça de chuva ou veio sem guarda-
chuva de propósito, como eu.
Sei que podia ir de mesa em mesa e encontrar afinidades.
Com umas pessoas, afinidades para partilhar durante horas. Com outras, um
sorriso breve de um segundo.
Mas com todas, com todas e com cada uma delas encontraria um ponto comum,
fosse centrado numa ideologia política, num conceito filosófico, num hábito de
poupança ou numa mania partilhada.
Somos tão perto. E às vezes pomo-nos tão longe...
Enquanto escrevo no papel vou olhando à volta. Levanto a cabeça para observar,
como se estivesse a fazer desenho à vista. Troco olhares sem querer e quase me
apetece dizer: “Sim, estou a escrever sobre vocês. Sobre cada um de vocês, que nem
sou capaz de enumerar. Escrevo que somos todos parecidos. Não acham? Somos
todos parecidos. Mais parecidos do que diferentes. Mais perto do que longe. Não
acham?”
Não sei se acham, nem se é óbvio..
Às vezes é difícil aceitar o perto que estamos.
Às vezes é difícil aceitar as parecenças quando o que procuramos é um lugar só
nosso. Às vezes é difícil procurar o território comum, neste convite aberto de
uma sociedade que nos pede para sermos únicos.
Seremos únicos, sim. Mas únicos dentro de um infinito limitado a ser Humano.
E por isso estamos perto.
Será que andar pela vida, pelos dias, pelo quotidiano pequenino com esta ideia
presente nos faria mais disponíveis para conversar com a senhora do lado no
metro, com a jovem da frente na fila, com o velhinho a escolher maçãs da mesma
caixa na frutaria?
O que ganharíamos por aceitar mais perto os outros?
O que se evitaria por ver neles gente próxima em vez de seres distantes?
O que se tornaria possível por encurtarmos distâncias que na realidade nem lá
estão?
Intuo, sinto, sei que estamos todos mais perto do que longe; que somos todos
mais parecidos do que diferentes; que somos todos mais parte do mesmo do que
pedaços soltos de algo.
E que o aproximar desse espaço comum começa nesta sensação de Possível.
Estamos todos perto. E abro de novo o computador para pegar nestas palavras e
as levar a quem as leia e eventualmente as sinta e, com esse movimento, ficar
mais perto de alguém de quem nunca vi a cara.
Estamos todos perto. E se assim for, ou se assim não for, era bonito receber um
e-mail a contar. Aproxima-te, queres?
pessolet@gmail.com
Edite Amorim, 18 Janeiro'14
www.thinking-big.com/blog
