Quanto vale o silêncio? Estaremos nós a chegar ao ponto de ter de pagar por ele? Ou podemos simplesmente usar o nosso direito ao silêncio livremente?
Falo de todos: o silêncio que vem do ruído, o silêncio que vem das pessoas, o silêncio que vem do exterior e, principalmente, o interno.
John Cage dizia: “Efetivamente, não importa o quanto tentemos fazer silêncio, não podemos.” e, não podia estar mais enquadrado nos tempos que correm.
A sociedade disciplinar deu lugar à sociedade de produção e com ela trouxe o excessivo caos que é lidar com o mundo carregado de conteúdos reais e não reais e a vontade do consumo voraz de tudo ao mesmo tempo.
O silêncio torna-se um luxo nesta era do desenvolvimento tecnológico, da proliferação das redes sociais, da má tv e o mundo transformou-se numa cacofonia de berros. A maioria dos seres fala demais, sem filtros, com uma alienação geral do outro e da própria vida. A desinformação e a ignorância ganham terreno e tudo isto nos pode guiar a um caos mental de excesso de tudo.
O Êxtase do Silêncio é o segundo disco de Ruído Roído e quer explorar o conceito de silêncio neste mundo cada vez mais ruidoso.
Traz com ele 8 densas e intensas faixas carregadas de noise, kraut e alguma electrónica.
Com elas poderão conseguir ficar em pleno estado de transe ou abanar de tal forma que o caos mental que vivem se vai diluindo por entre a música.
Este disco foi criado de raiz no âmbito do programa Trabalho da Casa, no gnration, em Braga e conta com a participação dos convidados Miguel Pedro (Mão Morta), Gustavo Costa (Sonoscopia), Élio Mateus (Imploding Stars), Alexandre Abrunhosa (Nothing:Always:Works) e do contrabaixista Jorge Castro. Foi produzido pela banda, misturado e masterizado por Márcio Décio e é lançado hoje com o selo da Raging Planet. Será apresentado no dia 25 no gnration com um espetáculo que contará com a cenografia de Vânia Kosta e uma componente visual orquestrada pelos alunos do Mestrado em Media Arts da Universidade do Minho em constante diálogo com a banda.
Roer faz ruído ou o ruído faz roer? Será que temos capacidade de conseguir mastigar sem roer todas as homófonas que nos vão aparecendo pelo caminho ou precisaremos de ruído para as as conseguir digerir?
Ruído Roído representa todas estas homófonas e toda uma vida dissonante e sonante que nos passa diante dos olhos num furacão explosivo e demolidor que nos fornece a adrenalina suficiente para nos manter vivos.
Com o fim dos Malcontent, projecto que Jorge Oliveira (Big Summer, Karnnos, Ex- Hospital Psiquiátrico, Ex - Martyrium, Ex - Bal Onirique) e Márcio Décio (La Resistance, Pyroscaphe) partilharam durante vários anos, surge a ideia de começar algo novo, diferente de tudo aquilo que os dois músicos faziam. Algo que os colocasse num local de desconforto e, ao mesmo tempo, os desafiasse a desbravar caminhos cobertos de silvas.
Este hiato estranho a que chamámos de pandemia veio dar o empurrão para que cada um começasse a gravar em sua casa e tudo começasse a desenvolver formas.
Ruído Roído é um projeto que nasce entre o Porto e Braga, em 2020 e dois anos depois, surge com o disco de estreia. Dor foi produzido pelos 2 membros fundadores da banda, tem o selo da Raging Planet e foi lançado a 26 de Fevereiro de 2023.
Ao vivo a banda apresenta-se com Jorge Oliveira no baixo, Márcio Décio na guitarra, Rui Rodrigues na percussão e Sílvio Almeida nos sintetizadores.