Crónicas

Março 2016


Pedaços de Pensar Grande
Tragédia de Prósfygas – I. Prólogo.

Há peças de Teatro que nos rebentam diques, nos revolvem interiores e nos movem na cadeira. Há peças de teatro que são vozes dadas a outros, gritos de longe que se fazem perto através de personagens sobre o palco diante dos olhos. Assim é com Tragédia de Prósfygas – I. Prólogo.

São 5 atrizes em cena, num cenário sóbrio e completo, onde o sincronizado jogo de luzes, o ambiente sonoro intenso e as projeções fortes criam tudo o que é necessário para a hora e meia em que quase não respiramos.

Durante esse tempo assistimos a momentos coletivos trazidos por uma sincronia de corpos vestidos de negro, afinada com as vozes que se ouvem em uníssono. Uma ponte ao teatro grego, com o coro que permanece em palco fortalecendo cena atrás de cena, e saindo e entrando num ritmo que nos hipnotiza.

Desfilam então, uma atrás de outra, as 5 interpretações individuais de 5 mulheres, representando 5 histórias de 5 vidas, de 5 situações semelhantes, passadas num mesmo lugar. O lugar de uma guerra conhecida, contemporânea. Uma guerra que podiam ser várias, que podiam ser todas.
As interpretações que lhes dão voz são capazes de nos reter a respiração, pela forma e pelo conteúdo do que narram. São capazes de nos fazer apertar os punhos, encolher na cadeira, contrair as costas sentadas. São 5 interpretações arrebatadores, entregues e fortes, de 5 jovens atrizes com uma energia e presença de corpo e voz que não permitem pestanejar. Forte.
Em palco estão 3 Isabeis e 2 Joanas, uma delas a dramaturga (Joana Soares), que foi capaz de passar a textos de linguagem muito clara, cadenciada e fácil de seguir, as histórias reais que recolheu no intenso tempo de preparação desta peça, encenada por Eduardo Faria.

Este é um trabalho de teatro-intervenção, de teatro-voz, de teatro-real. Uma peça que traz para perto a realidade de uma guerra onde algumas vozes não se ouvem.

É dura de ver e dura de sentir, apesar da beleza com que tudo nos chega, desde os figurinos à encenação dinâmica e cativante. Mas é um trabalho que precisa de ser visto, ouvido, sentido, pela luz que traz sobre situações de trevas passadas neste tempo ao mesmo tempo.
Como dizia Eduardo Faria, no final: “Eu sei que é uma obra dura. Mas é nosso dever dar voz, ganhar espaço de reflexão, mostrar para falar, para poder mudar o que está nas nossas mãos.”
Absolutamente recomendável, Tragédia de Prósfygas – I. Prólogo estreou ontem, dia 18 de Março’16, no Cine Teatro Garrett da Póvoa de Varzim, onde estará ainda hoje, dia 19 (às 22horas) e amanhã, Domingo, às 17 horas.

Fotografia by Eduardo faria


Edite Amorim, 19 Março'16
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