Crónicas Fevereiro 2016 Pedaços de Pensar Grande
Os dias são corridos e passados entre coisas tão várias como os estímulos que eles embalam. Multiplicam-se os afazeres, os “onde ires”, os “por cumprires”. Aglomeram-se como pinhões as necessidades de divisão do elástico tempo, que parece escorrer pelos dedos de mãos que nunca chegam para o contar.
Nunca serão demais as vezes que me perca para te ouvir, para te sentir, para estar.
Sejas um Amigo ou um amigo; sejas um desconhecido que quis falar, sejas um conhecido que se quer conhecer, sejas quem sejas, desde que venhas em missão de paz .
Nunca será demais o tempo que gaste porque tu me pedes que assim seja, porque tu desejas que assim seja.
O tempo é o meu ouro e a atenção é o meu diamante polido. É ele que te estendo a cada minuto em que fico ali, sentada, a olhar o que quer que venha, o que quer que esteja.
Honrarei os pedaços que partilhamos, certa de que, seja o que for que deixe para trás ao fazer a opção de TI, será certa a troca, será certo o caminho.
Dou-te o meu tempo e ali fico, nele, contigo, a ouvir-te, sentir-te, falar-te, enquanto confiar que eu estar ali é tudo, e mesmo tudo o que eu posso fazer.
Fotografia by Miguel Marecos
Edite Amorim, 25 Fevereiro'16
A entrega do tempo
Ainda assim, às vezes, alguém chega e pede. Pede ouvidos, ou tempo, ou atenção ou presença. Pede que estejamos, ali, a cem e sem pressa.
Um desabafo, uma partilha, uma conversa de alma ou uma confidência sentida; uma reflexão que chegou, uma voz que se quer ouvir alto. Um Eu que necessita a outro para nele se derramar em palavras, num momento que escape às horas.
A esses, a quem entrego sem dúvidas nem hesitações os ouvidos e a atenção, levo as palavras seguintes, em forma de carta fechada, aberta de tempo, aberta a tudo.
Nunca serão demais as vezes que me atrase, as vezes que me perca, as vezes que saia do caminho para ir ao teu encontro.
Nunca será demais o tempo que passe contigo, o tempo que passe sem que dê por ele, só por estar por ti, para ti.
Trago até ti a paciência de cada dia e os ouvidos frescos ao que me queiras dizer.
Trago o tempo todo cheio de tempo para me sentar a ouvir, para ficar a sentir-te.
Darei como bem empregues todos os atrasos que isso me provoque, darei por bem servidos todos os bancos que usemos, sentirei que foi para esse momento que o meu existiu.
Só para te ouvir, só para estar ali.
Fosse eu feita de horas e minutos, e entregar-tos-ia em forma de não-relógio, num objeto ficcionado que te chegasse ao coração.
Pelo Humano que nos une, por ser esta a contemporaneidade que partilhamos, por sermos caminhantes lado a lado, num mesmo pedaço de terra. Por isso, só por isso e por isso mesmo.
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