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Estivemos à conversa com Rui Jr., a proposito do 1º Congresso do Bombo em Lisboa.

Fenther – Quase duas décadas sempre a rufar... Foi difícil o percurso até aos dias de hoje?
Rui Jr. – Difícil não é fazer mas manter.
Desde o início do projecto que, para muitos, poderia parecer que o bombo – um instrumento “pobre” da nossa cultura popular - pudesse ter um futuro auspicioso.
Mas sempre achamos que a limitação não residia no instrumento em si, mas da nossa abordagem e da nossa própria capacidade para lhe atribuir e devido valor.
Vejam-se exemplos como os tambores tradicionais japoneses - os TAIKO - e a que nível este povo consegui mater e trazer para a actualidade, e globalmente reconhecida, uma tradição milenar.
Fomos e somos ainda pioneiros nesta busca incansável pela re-descoberta e pela criação de novas e originais aplicações em contextos urbanos.

Fenther – Houve sempre vontade de rufar e descarregar as energias na precursão?
Rui Jr. – O ritmo também tem o seu bio-ritmo. Às vezes convém descansar mas parar provoca um certo estado de carência porque é muito bom tocar bombo juntamente com muitas pessoas. Esta percussão é de tal maneira apaziguadora que os bebés adormecem ao seu som e só acordam quando o bater para. As crianças ficam perplexas, de boca aberta, coladas ao chão nume estado de eternidade. É de tal maneira emocionante que muitas pessoas choram - não porque estão tristes - por pura emoção.

Fenther – Alguma vez pensaste em parar de rufar?
Rui Jr. – Sim, algumas vezes senti-me derrotado. O incêndio, em Março de 2011, o qual destruiu a nossa sede e todo o nosso espólio de 15 anos de actividade. Foi um enorme abalo. Não foi de imediato, mas um ano depois tive momentos de grande insegurança. Pensei, em diversos momentos, que nunca mais viria a ter a energia que tinha antes.
Felizmente, esse sentimento passou - o tempo cura tudo - e estou, de novo, em plena forma :)

Fenther – Satisfeito com os jovens de hoje? São a fonte da vida dos Tocá Rufar ou é notório algum desinteresse?
Rui Jr. – Quando era miúdo gostava de andar com mais velhos. Hoje gosto gosto de andar com os mais novos. Os jovens de hoje são como os de ontem e os de amanhã: sangue na guelra, contestando e desafiando o establishment, e com vontade de ir à luta. São uma inspiração porque emanam uma energia inesgotável quando movidos pela convicção. Serão eles os fazedores do amanhã.

"O 1º Congresso do Bombo vai ser um lugar de encontro de diferentes pessoas, projetos e organizações relacionadas ou com intervenção no âmbito da percussão tradicional."

Fenther – Quem quiser fazer parte deste grupo, o que tem de fazer? Está aberto a qualquer pessoa?
Rui Jr.– O Tocá Rufar tem uma vertente que é aberta a todas as pessoas e de todas as idades. São os chamados ensaios da orquestra. É uma actividade totalmente gratuita, praticada, actualmente, ao ar livre no verão e em recinto coberto nos meses mais frios e chuvosos, ou seja: entre Abril e Setembro no Seixal, junto à baía, todos os domingos a partir das 9h30 e, de Outubro a Março no CEA- VA Centro de Experimentação Artística do Vale da Amoreira, Moita, dentro do mesmo horário. Basta aparecer e começar a tocar. Qualquer esclarecimento será dado enviando mail para tocarufar@tocarufar.com ou pelos nºs 214 057 906 ou 917 575 664.
Mais informação em http://www.tocarufar.com/pt/Escola-Toca-Rufar

Fenther – Nos dias 28 e 29 de Novembro a Aula Magna em Lisboa, vai receber algo inédito. Queres falar um pouco sobre o que vai acontecer?
Rui Jr.– O 1º Congresso do Bombo vai ser um lugar de encontro de diferentes pessoas, projetos e organizações relacionadas ou com intervenção no âmbito da percussão tradicional. Aí iremos potenciar a reflexão e o debate sobre a investigação, aprendizagens e conhecimento, a inovação e criatividade, novas ideias e projetos. Será igualmente um lugar de partilha de experiências e boas práticas e de implementação de novas redes de cooperação.
O congresso quer articular a reflexão e a intervenção concreta, e convocar a investigação, as ciências e os cientistas sociais, mas também as administrações públicas (central e local), os criadores, artistas e tocadores, os construtores de instrumentos (artesãos e empresas), os professores e educadores artísticos e os agentes culturais em geral.

Fenther – Como são feitas as inscrições?
Rui Jr. – Existem duas formas de uma pessoa se inscrever:
- Participando no crowdfunding com o valor 10€ o que representa 50% do valor do ingresso. http://ppl.com.pt/pt/prj/congresso-do-bombo
- Adquirindo o bilhete com 50% de desconto até dia 31 de Outubro em http://loja.tocarufar.com
- No próprio dia, na recepção ao congresso, à entrada da Aula Magna. O ingresso normal tem o custo de 20€ e é va´lido para os 2 dias. Não há ingresso só para 1 dia.

"Queremos que se inicie um processo de estruturação do ensino da música, dança e canto tradicionais portugueses nas redes de ensino."

Fenther – Resumidamente, onde querem chegar, o que querem mostrar, com este congresso?
Rui Jr. – Queremos que este 1º Congresso do Bombo seja um de muitos mais, mas sobretudo um pontapé de saída e um impulso para a valorização do nosso património imaterial.
Queremos que se inicie um processo de estruturação do ensino da música, dança e canto tradicionais portugueses nas redes de ensino.
Estamos convictos que este congresso e os registos que daí resultarem nos trarão mais matéria de trabalho e de estudo, mas também conhecimentos e valências que possamos por em prática nas diversas actividades educativas, artísticas e culturais e, também, económicas através do estímulo ao fabrico e produção de instrumentos.

Fenther – Um evento com o inteiro apoio da Presidência da Republica, certo? Como aconteceu este carimbo importante para o congresso?
Rui Jr. – Foi inesperado, mas ficamos muito honrados. Sabemos que é necessário semear muito para colher alguma coisa. É, certamente, um reconhecimento pelo trabalho que o Tocá Rufar tem desempenhado na intervenção sociocultural, indissociável dos valores da cidadania, da inclusão e coesão social, da participação cívica dos cidadãos e na formação integral de crianças, jovens e adultos e no seu desenvolvimento pessoal e social, através de modelos alternativos de educação não formal e informal, de práticas artísticas inovadoras e de excelência, envolvendo as comunidades num processo partilhado.

Fenther – A associação Tocá Rufar vai continuar em grande força?
Rui Jr. – Mais do que perpetuar a nossa associação queremos, acima de tudo, dar continuidade ao estudo e à preservação do Bombo, enquanto instrumento icónico e representativo da nossa portugalidade.
Mas sim, temos grandes planos para o futuro. Somos criadores, por natureza. Sempre com os olhos no futuro inspirados pelos nossos antepassados.

Fenther – Próximos passos a serem dados? Há agenda?
Rui Jr. – OSim e podemos divulgar em primeira mão: a nossa parceira desde os primórdios do projecto, a Câmara Municipal do Seixal, permutou-nos um terreno onde iremos edificar a futura sede do Tocá Rufar.
Com a ajuda de todos!

Fenther – Mensagem final...
Rui Jr. – De quem é o Carvalhal?*
http://www.fernandopaulouro.com/2014/03/o-carvalhal-e-nosso.html
É nosso!

Vitor Pinto